segunda-feira, 31 de maio de 2010

OS PRESENTES QUE O PROFESSOR RECEBE

Por: Grace de C. Gonçalves
Tema: Reconhecimento


Foi há muito que voltávamos para casa com os braços cheios de presentes dados pelos alunos pelo dia do professor. Eram bijuterias, maquiagens, lenços, caixinhas de música, bombons, canetas, meias, laços de fita e muitos papéis de presente. Mesmo sabendo que alguns deles vinham carregados de segunda e terceira intenções, os presentes eram visíveis, palpáveis. Representavam o carinho e o reconhecimento de nosso trabalho - pelo menos, era assim que entendíamos (ou nos iludíamos).
A economia se modificou e perdemos os regalos. Hoje, os presentes que recebemos não têm data certa para a sua entrega, nem tampouco são visíveis para os olhos. Eles estão chegando de mansinho, quase imperceptíveis que, se não estivermos atentos, perdemos a oportunidade de nos alimentarmos de sua representatividade. Esses presentes acontecem nos momentos mais inusitados de nossa vida profissional.
Sabe aquela hora em que estamos esgotados, acreditando que estamos falando para as paredes? Pois é, o presente vem chegando assim, do nada. Um aluno se aproxima com o caderno na mão, totalmente alheio ao seu desânimo e lhe pergunta: É deste jeito que se faz?
Ou então, depois que você sai daquela 7ª G arrasado - porque, mesmo tendo modificado o método, a aprendizagem não ocorre - segue exaurido para a 7ª D sentindo-se uma nulidade. Lá, é recebido com expectativa porque na aula anterior gostaram da atividade de redação e aguardam a sua continuidade.
Também tem aquela vez que, quando da visita de um grupo de teatro, no final da peça, naquela hora em que os atores se colocam à disposição de questionamentos, um dos profissionais comete o ato falho de dizer que o ponto de vista apresentado na peça é o mais certo e o seu aluno se levanta indignado repetindo a sua fala sobre ponto de vista, respeito às preferências dos demais, dos direitos dos outros e outras coisas mais.
Às vezes, o presente demora a chegar. Vem depois de alguns anos, quando seu ex-aluno, já na terceira série do segundo grau lhe para no corredor dizendo que será publicitário graças àquelas atividades que simulavam uma agência de propaganda. Ou então, mais tarde ainda, quando um rapaz, já em idade madura, lhe para no farol e lhe diz: “É você o professor tal? Então, eu queria lhe agradecer, pois estou na faculdade por causa de uma regrinha que você nos passou em forma de canção. Agora estou terminando minha faculdade de biologia já com emprego em vista”. Embaraçado, você agradece e pensa: “Nossa, já tenho aluno tão velho assim!” E respira aliviado “Ah, foi aluno meu do supletivo”.
Não lidamos com máquinas, mas sim com gente. Máquinas respondem logo e se não desenpenham a atividade programada é só reprogramar. Mas gente é diferente, a aprendizagem é diferente, desigual, arrítmica e surpreendente. A profissão – professor - é tarefa árdua, sem perspectiva de evolução financeira, sem reconhecimento político, sem prêmios por trabalho desempenhado, entretanto valoroza e de grande responsabilidade porque modificamos mentes, interferimos em destinos, salvamos vidas que se perderiam caso não estivéssemos lá para entusiasmar, incentivar, sonhar. A nossa paga? O essencial, invisível para os olhos.