sábado, 9 de abril de 2011

O ATO DE LER PARECE MÁGICO, MAS NÃO É.

Publicado no Jornal Virtual Profissão Mestre
Ano 7 nº 124 03/07/2009

Por: Grace de C. Gonçalves

Lá em casa tem livros, na escola também. Na biblioteca então, nem se fala. Mas estão empoeirados, esquecidos. Por quê? A situação que se apresenta hoje não é muito diferente a de alguns anos atrás. Quando estava na 5ª série, minha professora nos indicou (leia: mandou) a leitura de Memórias Póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis. A única coisa que ficou guardada em minha memória foi a de me sentir uma analfabeta, pois oitenta por cento do que lia não entendia. Havia umas palavras complicadas que não faziam parte do universo cultural de uma garotinha de 11 anos. E saiba você que, na época, meu conhecimento vocabular, como o uso do pronome enclítico - peguem-no, socorram-me – era empregado também na oralidade. A prova disso está nos diálogos de desenhos animados Flintstone e Manda Chuva que passavam na televisão já naquela época. Para me livrar da obrigação e fazer jus ao dinheiro gasto por meus pais, eu pulava páginas, capítulos, corria para o final da obra na tentativa de deduzir algo. Que desespero!

Hoje, apesar de o mercado livreiro oferecer uma variedade de gêneros mais condizentes com a faixa etária e interesse dos jovens, os livros continuam nas prateleiras. Vamos pensar sobre o assunto.

Uma das causas desta aparente falta de interesse reside no mesmo ponto em que eu, no meu tempo de infância, me deparei: vocabulário desconhecido.

Quando o leitor desconhece uma ou outra palavra pode inferi-la apoiando-se no contexto em que ela está inserida, mas quando são muitas... ah, só com orientação. Trocando em miúdos: você sabe o significado de condizente, deparar, residir, inserir e contexto, neste contexto? Pois é. Para você, leitor desta revista, deve ser baba, manero, mó boi, mas, para o jovem, essas palavras não fazem parte de seu universo cultural da mesma maneira que baba, manero e mó boi não fazem parte do universo cultural de um adulto.

Agora, vamos a outro ponto. Pegue um dos gibis de Maurício de Souza que tenha mais ou menos cinco anos e o dê a um pré-adolescente. Os temas tratados nas histórias são os mesmos vividos pelo consumidor da época: há referências a bandas, gírias, acontecimentos importantes como copa, nome de jogadores, de políticos que, passados cinco anos (e isso é muiiiiito tempo para um jovenzinho), nada disso tem sentido. A dificuldade, nesse caso, não é mais o desconhecimento do vocabulário, mas o conhecimento de mundo que chamamos de conhecimento prévio da situação retratada naquele contexto. E você pensou que dar aqueles gibis velhos de sua coleção faria de seu filho um letrado..., assim..., na maior! Hum! Não digo que seria nula a aprendizagem, mas que ele iria olhar para a sua cara com uma baita interrogação, ah isso iria!

Para que o nosso filho ou aluno não passe por essas dificuldades, pai ou professor pode abrir mão de algumas estratégias: ler com ele parando nos trechos que oferecem dificuldade de interpretação; buscar no dicionário palavras que ambos desconhecem e relacioná-las ao dia a dia; contar coisas sobre o momento descrito. Pai e filho, professor e aluno trocam experiências, ampliam seu universo cultural e passam a entender o modo como o outro vê (lê) determinada situação. Uma autêntica troca de experiências. Dá trabalho? Dá, mas o fruto colhido é muito gratificante. Tendo pai ou professor como leitor-modelo, estas estratégias ativadas durante a leitura poderão ser utilizadas quando o jovem estiver sozinho. E é isso que todos nós queremos formar, um leitor independente.

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